quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Crimes Imperfeitos - II


Crimes Imperfeitos - II
Sempre estudaram juntos, desde a quinta série. Eram como cães e gatos. Redefiniram, na verdade, devem ter criado o conceito de “bullying”. Ele, sempre mais forte e bonito, fazia coisas que humilhavam o outro. Mas só ele podia. Só ele. Qualquer outra pessoa que tentasse mexer com a coisa mais próxima de um amigo que ele tinha, apanhava.
E seguiram assim no ensino médio. Ele até pediu a mãe que o pusesse na mesma escola que a do “amigo”; Mas se perguntassem ao amigo, ele diria que não, que não agüentava aquelas maldades com eles, apesar da proteção que recebia. Era fraco e as meninas nem olhavam para ele. Ao contrário do seu “amigo” fortão e bonito. Mas essas humilhações iriam mudar, quando passasse para a universidade.
Passou. Para uma universidade pública federal, vizinha de sua cidade, em Santa Maria. Estaria livre finalmente.
Mas no segundo semestre a novidade decepcionante. Lá estava ele, seu “amigo”, pronto para levar o trote. Mas quem sofreu o trote foi ele. Tudo de novo. Ele se removia de raiva. E assim sofreu até o fim da faculdade. Mas ele iria se vingar. Estudara bem tudo, cada passo planejado:
Ele entrou na comissão de formatura, só para por em ação seu plano. Sugeriu e todos concordaram: a festa seria na boate, com um show. Tudo pronto. Tudo correndo como ele planejara.
Dera ao vocalista o artefato, grand finale do show.Seria apoteótico, ele dizia. Não sabiam o quanto.
Eles veriam. Ele, o que lhe humilhara, importunara desde o ensino fundamental, e todos que o veneravam e rodeavam.
Dia de formatura. Partiram para a boate. Ele entrou, mas disse que estava mal, que ia embora. Esperaria lá fora. Queria ver o susto deles de longe.
A fumaça começou a vazar. Muita gente desesperada correndo,  saindo como loucos. Ele esperava, queria ver o cara do maldito. Mas algo dera errado. Fumaça demais. Ele pergunta a um colega sobre seu “amigo”. Ele diz que não sabe, que é impossível ele ter sobrevivido.
Ele se lembra de todos os anos,  de todas as vezes que brigaram, todos aqueles momentos. E percebe o óbvio, eram realmente amigos, sem aspas.
Entra como um louco boate Kiss adentro. Fumaça, fogo.ele vê o amigo, já mal, quase desmaiando. O segura pela camisa de cor berrante, e puxa para fora. A fumaça o sufoca, ele que fora sempre frágil, a bronquite  e a asma. Ele desmaia.
O amigo, em um momento de força desesperada, o leva pra fora.
Não resistem. Morrem sufocados, quase agarrados, no lado de fora .


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